quinta-feira, 4 de agosto de 2011

REZADEIRAS DO RIO GRANDE DO NORTE


Em algumas regiões do Brasil as Rezadeiras são conhecidas também por “Curandeiras” ou “Benzedeiras”. Entre os séculos XVI e XVIII, eram tidas como “feiticeiras”. Erroneamente foram perseguidas, oprimidas, punidas, rejeitadas e algumas até condenadas ao lançamento, ainda vivas, nas “Santas” fogueiras do Santo Ofício pelos Tribunais da Inquisição da então Igreja Católica.
Pais e Padrinhos dão a bênção a seus filhos e afilhados. Católicos se benzem antes de qualquer ação importante ou ao passarem diante de uma Capela ou Igreja. Espíritas dão “passes” aos que estão com negatividade fluídica. Evangélicos fazem orações e cultos nas horas alegres e tristes. Tudo é oração, e a Rezadeira faz a sua “Benzeção” para alguém que a procura, pretendendo curar-se de algum mal.
Durante dez anos, pesquisando as Rezadeiras e seu mundo místico, no Rio Grande do Norte, observamos algumas curiosidades, técnicas usadas por essas mulheres do povo. A antropóloga ELDA RIZZO falando de Rezadeira, sabiamente vaticinou: “Cientista popular e médica popular” — “Ela é uma cientista popular que possui uma maneira muito peculiar de curar: combina os poderes místicos da religião e os truques da magia aos conhecimentos da medicina popular.”
Dona Joana dos Cocorotes, de Mossoró/RN, diz que começou a “curar” depois que sua filhinha morreu e, num sonho, numa aparição sobrenatural, pediu para que a “curasse” (1997).
Sebastiana Lima, 70 anos, católica fervorosa, analfabeta, conhecida em Patú como “Dona Bastinha”, aprendeu a “rezar” com o seu pai — “Severino Rezadô”. Reza criança e adulto, só não reza animal. Não ensina reza a “mulher”, pois a sua reza “enfraquece” e daí pode vir a perder o poder da cura. Não transmitiu ainda suas rezas a ninguém, pois até agora “nenhum cristão se interessou”. (1998).
Dona Nininha ou Ana Maria Gonçalves dos Santos, nascida em 17 de agosto de 1951, é católica praticante. Presta serviços de lavanderia e conserta punhos de rede. Lê “pouco” e não sabe escrever um bilhete. É muito procurada para curar crianças e adultos. Aprendeu a arte de rezar com dona Maria Belo — Rezadeira velha da cidade. Cura com ramo verde e, em caso de urgência, durante a noite, só cura com a chave de sua casinha humilde como a de todos os outros pobres que residem no bairro Campo, periferia de Pendência/RN.
Dona Belita, ou Isabel Vitorina da Silva, é uma das Rezadeiras de São Paulo do Potengi/RN, que para ganhar o pão de cada dia vive “sentada” numa máquina de costura. Quando alguém bate palmas pedindo para rezar, curar quebranto, mau olhado, espinhela caída ou engasgo — Dona Belita deixa a máquina e vai no terreiro buscar o ramo verde imediatamente. — “Curar é dom de Deus e Deus não tem hora para fazê o bem!”.
Quando Dona Belita cura “carne triada” pega os seus apetrechos de costureira — um paninho, agulha e linha branca — “vou rezar cozendo o pano e quando a reza terminá dou o último ponto na costura e a pessoa doente está curada, com os poderes de Deus.” Dona Belita, com 53 anos, aprendeu o ofício de rezar com sua mãe, Dona Josefa, rezando os doentes. Não ensinou a ninguém sua tradição curandeira (1997).
Luíza Maria de Lima, Luíza Rezadeira, 78 anos, natural de Lajes/RN, desde 1933 reside em São Paulo do Potengi, é católica, aprendeu a rezar com sua mãe que além de Rezadeira também era tiradeira de terços. Donana ou Ana Francisca da Conceição é de família de rezadores — seu irmão João Aleixo da Costa e sua irmã Maria Aleixo da Costa são rezadores. Dona Ana cura crianças e adultos e até animais, como uma vaca picada de cobra — “quando se termina de rezá se cospe na boca da vaca”—. Quando é um humano picado de cobras, ao final da reza, sem que o doente perceba, passa levemente sua saliva nos seus lábios — “Só cura com reza e saliva!” (1997).
Dona Santa ou Vovó Santa, que recebeu de batismo em São Fernando/RN, o nome de Honorata Araújo, reside em Caicó aos 82 anos. Analfabeta, aprendeu a rezar com sua mãe só no ouvir e na fé. Dona Santa é católica, reza crianças, adultos e animais ditos abençoados — “Não se reza porco”. Quando os pais não podem levar a criança à presença de Dona Santa, ela cura só em ver uma fotografia ou roupinha suada do “inocente”. Diante de sua canceira e velhice, se o dono do animal puder levá-la um “pêlo” de seu bicho de estimação, Dona Santa também cura.
Na cidade de Assu/RN, mora Dona Francisca Jorge da Silva, Rezadeira Católica, analfabeta, nascida em 06.09.1918. Mãe de 12 filhos, casada com “seu” João Evangelista Saraiva. Aprendeu a rezar com sua avó e sua mãe que eram Rezadeiras. Cura crianças, adultos e animais, a exceção de: “porco e burro mulo”. Para rezar um animal Dona Francisca não sai do seu quarto: — “É só me apontá em que lado fica o currá, mesmo se tivé rio atravessando o caminho”. Atualmente doente, mas com paciência e fé diz que sua doença é o “peso” das doenças que já curou. Dona Francisca certa feita rezou para reaver um revólver roubado, antes de completar sete dias, o ladrão devolveu o roubo ao dono da arma..
Em Natal existem inúmeras Rezadeiras, entre elas, Dona Maria Eugênia Campos Silva, no bairro do Alecrim ou “Tia” Delza, no bairro do Tirol. Dona Erenita Silva e dona Maria de Souza atendem aos doentes do bairro de Mãe Luiza.
As Rezadeiras têm duas coisas em comuns: a pobreza e a fé. Em suas casas, observamos imagens e reproduções de Santos. — “Santa Luzia, Coração de Jesus, Padre Cícero, Frei Damião, São Sebastião, São Jorge, Nossa Senhora – Mãe de Jesus...
As Rezadeiras invocam os Santos nas horas das dores dos doentes: dor de dente (Santa Apolônia), olhos (Santa Luzia), na gravidez (Nossa Senhora do Bom Parto), nos engasgos (São Brás), nas picadas de cobras (São Bento), e para azia (Santa Sofia)...
Nunca se cruza pés ou mãos quando em processo de cura, e ao final não pergunta-se qual é o preço da reza. Passados uns dias, visita-se a Rezadeira e deixa-se um agrado: um pacote de bolacha, um vestido... como presente, e não pagamento!.
Existem centenas de orações, com algumas variações de região para região. Existe o Rezadô — mas o nosso enfoque é só em Rezadeiras: “A mulher pode ensinar reza a homem que não enfraquece suas orações” — dizem quase todas entrevistadas.
Algumas são parteiras e todas têm nos quintais de suas casas as plantas que curam os doentes: olho de goiabeira — para dor de barriga; mastruz — para catarro e gripe; romã — para garganta inflamada; corama — para inflamação; sabugeiro — para febre; capim santo — para digestão; erva cidreira e erva doce — para acalmar...
Na região de Goiás, o renomado folclorista Ático Vilas Boas da Mota, depois de uma aguçada pesquisa publicou o seu “Rezas, Benzeduras Et Cetera”, onde classificou as orações e benzeduras em dois ramos: “A medicina popular e a veterinária popular”.
Em alguns casos e dependendo da doença, as Rezadeiras costumam pedir ao doente que volte três vezes no mesmo horário — “manhã, depois do sol se abrir e a tarde — antes do sol sumir”.
Dona Chiquinha do Assú recomendou-me na volta da viagem a seguinte oração:
— Fazendo o Pelo Sinal ao entrar no carro:

“Chagas abertas/Coração ferido
Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo
Se derrame entre eu (nosso nome)/E o perigo”— Assú – 1994.

O estudioso de religiões, escritor Giorgino Paleari, em seu livro — Religiões do Povo, define muito bem o nosso pensamento quanto as múltiplas funções das Rezadeiras na vasta e rica Cultura Popular:

— “Dependendo de cada situação social ou histórica, a religião assentada numa cultura popular pode ser fator de alienação, de identidade popular, de resistência diante da cultura dominante ou oficial...”

Portanto, entendemos ser essas Rezadeiras, a nossa autêntica resistência, diante da cultura dominante nos meios de comunicação e das religiões oficiais que tanto as discriminam. Há exceções, como o pesquisador Frei Chico (MG), autor do livro “Com Deus me deito, com Deus me levanto” que assim o epigrafa:

“Com Deus eu deito/ Com Deus me levanto/ Com a graça de Deus e do Espírito Santo./ Jesus filho da Virgem Maria me acompanha esta noite e todo dia.
Vós me olha e me guia/ Meu anjo da guarda me ampara e me guia./ Qual é a maior luz? Jesus. Qual é a maior guia? Maria./ Qual é o maior patrão? José./ Assim como esta verdade é/ valei-me meu Jesus, Maria José.


(*)Gutenberg Costa- É pesquisador, escritor e folclorista.

4 comentários:

  1. Nossa minha familia por parte de mãe é do interior da Paraiba e minha avó sempre contava que seus filhos desde pequenos ja demonstravam certa mediunidade sem sequer terem ido a uma casa de Santo ou juremeiro.
    Adorava escutar as historias que ela contava sua mãe minha bisavó era rezadeira e parteira muito solicitada para fazer partos naquela epoca pois hospitais so tinha hospitais na capital porisso o serviço das parteiras e rezadeiras era muito solicitado para rezar o ventre das mulheres caso menino estivesse virado na barriga da mãe tambem para rezar dor de dente , quebranto espinhela caida rezar rozario apressado minha avó dizia que sua mãe rezava esse rozario e no outro dia a pessoa que ela fez intenção e ja não via algum tempo aparecia .
    Achei muito bonito Este post que vc fez pois fez me lembrar de tudo que meus avós quase centenarios me contava quando pequeno e agora entendo quão bonito e devalorizado é antiga sabedoria DOS mais velhos sertanejos.
    Minha avó tinha uma irmã hoje ja falescida que foi morar com ela a moça ajudava a cuidar da casa e DOS sobrinhos enquanto meus avos trabalhavam na roça Meu avo ja falecido com seus 91 anos de idade contou que um dia essa irmã da minha avó adoeceu enloqueceu da cabeça de uma Hora para outra ele saiu do interior da paraiba até o RN onde havia um curandeiro que curava lendo orações e rezas disse que quando alguem ia procuralo quando chegava la ele ja estava na porta a espera .
    Então esse curandeiro chamado Manoel Clementino constatou que minha tia avo era medium e por não desenvolver ficava vulneravel aos ataques de espiritos . Manoel Clementino curou minha tiavó ela ficou boa e disse para ela mão tomar banho em aguas corrente pois as entidades voltariam a encostar nela naquela epoca não havia agua canalizada nem chuveiro minha tiavó foi tomar banho de riacho Como de costume e dito e feito ficou novamente doente Meu avo teve de levala novamente até RN na casa de Manoel Clementino disse que chega largou couro do pé de tanto andar.
    Chegando la Manoel Clementino ja estava a sua espera e curou minha tia prendendo as correntes contrarias e novamente alertou para ela não tomar banho em agua corrente ate que ela desenvolvesse mediunidade.

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  2. Eu estou a procura de uma rezadeira ou rezador. Aqui do nordeste se alguém souber de alguém me ajude me mande seu contato ou de cel ou fece ou watshapp o meu fece e Rosylvanoe meu zap e 83993853491

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  3. Eu estou a procura de uma rezadeira ou rezador. Aqui do nordeste se alguém souber de alguém me ajude me mande seu contato ou de cel ou fece ou watshapp o meu fece e Rosylvanoe meu zap e 83993853491

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  4. Bom dia meu nome e mirelly gostaria que asenhora min rezasse pq nada pra min ta dando certo ,tou sem trabalhar a minha mãe so anda brigando comigo diz que n presto meu marido min traio ta com outra nem quer saber de min n fiz nada pra ele ficar assim comigo,quero saber se ele volta pra min e se eu vou ser feliz eu so quero ser feliz e ter a minha liberdade e poder seguir minha vida com a minha filha morar so com minha filha ,o que vai ser do meu futuro.

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