domingo, 12 de fevereiro de 2012


Ser Juremeiro ou discípulo de jurema
A jurema é uma ciência muito antiga, seus fundamentos e segredos são passados de pais a filhos, mesmo hoje com toda a modernidade, devemos continuar a manter a tradição pois so assim nossa ciência não desaparecerá.
Escrever sobre os fundamentos da jurema é uma falta de respeito com os ancestrais, é uma comercialização de fatos e atos sagrados e que foram guardados por tantos anos, o verdadeiro juremeiro aprende na lida do dia a dia no terreiro, nos afazeres, ajudando aqui e ali, ouvindo os mais velhos em seus relatos pois tudo em nossa vida esta diretamente ligado a jurema, quando os mais velhos conversam acabam trilhando o caminho do ensinamento e cadê ao discípulo estar atento a cada palavra, cada gesto, ouvidos bem abertos e sempre recomendo estar sempre de posse de sua caderneta, agenda ou o q for para anotar suas duvidas e reflexões, pois na jurema se ouve e reflete, ai sim você encontra o ensinamento.

UMA CASA OU TERREIRO DE JUREMA
Uma casa ou terreiro de Jurema, mas falo um Terreiro de Jurema, não tem adoração ou culto a santos ou orixás, é uma casa de realizações de curas, de fumaça, de ajuda, de vinho, para o verdadeiro juremeiro não pode faltar sua marca e seu vinho de jurema, um vela acesa no centro da sala um copo dom água e galhos de aroeira ou outra arvore definida pólo guia. As vestes são coloridas, alegres, as mulheres vestem saias estampadas, antigamente era usado o chitão, hoje já temos com fácil acesso outros tecidos maleáveis e de lindas estampas, pode ser uma blusa da mesma estampa ou branca ou de outra cor que não seja preta, porem o ideal é q combine o vestuário com as funções da discípula na casa, para evitar constrangimentos, um pano na cabeça é indispensável, pois nossa cabeça no pode ficar descoberta na fumaça; os homens vestem calça de ração que pode ser de algodão cru ou outro tecido, pode usar estampas também, afinal tudo na jurema é alegria, camisa de manga curta branca ou de cor, com bolsos laterais onde guardam coisas de utilidade nos trabalhos, um chapéu de palha ou um boné tipo boina puxado pra frente e pés descalços completam a indumentária de um juremeiro ou discípulo da jurema, que nos trabalhos diários são dispensados uso de seus fios de contas deixando apenas a primeira de seu guia q recebeu no batismo, as outras ficam para ser usadas em giras e festas.
A casa deverá ser defumada pelo menos todos os dias, após a limpeza cotidiana, despachada a moringa de Malunguinho, firmado os pontos, os cachimbos estão devidamente limpos e desentupidos, o fumo preparado, tanto de direita como de esquerda, velas em seus devidos lugares, tudo a mãos para evitar correrias, então estamos prontos para iniciar os trabalhos.
Não se pode dizer q uma casa é de jurema ou de juremeiros se esse espaço não é único, é divido com o culto aos orixás, os orixás ou santos são entidades muito finas e de muitos preceitos o principal deles é não levar fumaça...nem de cachimbo, nem de cigarro, nem cheiro de bebida de espécie alguma, alguns não podem estar próximo ao dendê, por isso se recomenda 2 terreiros, um para o orixá e outro para jurema, independentes um do outro, pois não será um quarto de porta fechada que impedira a mistura de fumaça e odores.
Uma pessoa não pode se dizer juremeiro sem ter passado por todas as etapas de iniciação, enquanto esta em fase de aprendizado é chamado de discípulo e carrega esse no nome, juremeiro já passou por todos os preceitos, obrigações, e esta apto a dirigir sua casa de jurema.
Porem uma casa onde se cultua orixá, no mesmo espaço q chamaremos de sala não pode cultuar a jurema, não pela jurema que não tem nenhuma restrição com o orixá , mas pelo orixá por razoes que já esclarecemos, se você é candomblecista e também toca jurema, já começa saindo fora do contexto de candomblé, mas mesmo assim se você cultua jurema no mesmo espaço, não pode dizer que sua casa é de jurema, que sua casa é de juremeiros, pois ou se faz uma coisa ou outra, ou se agrada a um ou a outro, não podemos agradar a dois senhores ao mesmo tempo e no mesmo espaço.
A Cabana de Jurema do Mestre Arranca Toco é tipicamente Casa de Jurema, creio que a unica na cidade que nunca cultuou Orixás.
Peço as pessoas, discípulos de jurema, juremeiros que lerem esse relato, passe a frente e vamos ajudar a trazer de volta nossa tradição, nossos segredos, nosso axé.
Sarava a Jurema, Sarava Malunguinho único e verdadeiro Guardião da Jurema.
A JUREMA MERECE RESPEITO E OS(AS) JUREMEIROS(AS) TAMBEM.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Ação coletiva é a verdadeira arte

Ação coletiva é a verdadeira arte

A Prefeitura de Camaragibe mostrou a que veio, com toda sua coragem e força vem desenvolvendo aos longo dos anos projetos apolíticos ( fechamentos de todos equipamentos culturais que existiam, ações culturais de fomento, formação através de projetos como Teatro Camará, e ate os eventos sazonais como o Carnaval, São João e Natal momento este, o qual nos presenteará no final deste ano, ao invés de no mínimo termos o Baile do Menino Deus, um Cavalo Marinho, será compartilhado conosco toda obsolescência cultural por meio de João do Morro e MC Sheldon, parabéns a gestão das impolíticas ambientais, culturais, sociais, entre outras, ela conseguiu seu objetivo maior; o de despolitizar a população. O único meio formal e informal que temos na mão é o conselho de cultura, meio ambiente, assistência social e bastante mobiliz"ação". — com Revo Cultura Livre e Cultura Viva Pernambuco.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

ABAIXO ASSINADO

Um texto de Mestre Freitas Juremeiro de Natal/RN

Abaixo assinado para que se torne inviolável o direito dos Templos Religiosos de matrizes afro-cultural ( terreiros de candomblé e umbanda ) em praticar livremente seus rituais de sacrifício animal, sendo estes de consumo alimentar –tais como aves, caprinos, suínos e bovinos. Instituindo também que as autoridades competentes de cada município criem lugares específicos em seu território destinado às entregas de oferendas, reservando também áreas na reserva natural, tais como matas ou florestas para tais atos e rituais. Sendo estes locais destinados, previamente consultados através de convocação as lideranças religiosas de cada município para sua aprovação.

Tendo em vista alguns projetos de leis que ferem a CF Lei n.º 5/98/M de 3 de Agosto-Liberdade de religião e de culto. É absurdo e intransigente alguns mínimos seguimentos da sociedade quererem interferir nos ritos do Candomblé e da Umbanda, promovendo leis municipais e estaduais que criminalizam não tão somente a religiosidade afro-descendente como também de forma extremamente arbitraria pratica violência sobre a cultura AFRO BRASILEIRA. Por este motivo lanço esta proposta para que seja avaliada e com apoio da sociedade seja legalizada.
O Candomblé e Umbanda, como suas demais ramificações constituem um patrimônio cultural e imaterial da sociedade Brasileira transmitido de geração em geração e constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função de seu ambiente, interação com a natureza e sua história, gerando um sentimento de identidade e continuidade, contribuindo, assim, para promover o respeito à diversidade cultural e à criatividade humana.
A UNESCO define como Patrimônio Cultural Imaterial as práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas e também os instrumentos, objetos, artefatos e lugares que lhes são associados e as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os indivíduos que se reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural. Por este motivo não podemos permitir a demonizaão de nossa cultura e crença, que tão somente não o é, mas sim uma identidade cultural e social que em nada tem haver com mal tratos aos animais e degradação ao meio ambiente. Sendo esta na realidade promotora da proteção á natureza, à fauna e a flora, pois destes meios que vêem suas crenças.
Por favor assinem e serio e afavor de nossa religiao estao querendo nos destruir
http://www.peticaopublica.com.br/PeticaoVer.aspx?pi=ISR2010

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Comentário sobre ação evangélica


Há muito tempo eu venho alertando aos meus irmãos de religião afro brasileira, principalmente aos juremeiros, que temos de tomar providencias enérgicas e sérias sobre a ação dos evangélicos contra todos nós, já transmiti o recado de um Exú da Lei que me foi repassado,” ou tomamos as rédeas de nossa tradição, de nossa religião, mostramos a cara, lutamos por nosso direito de culto e opção religiosa, que devemos lutar nos espaços públicos mandatários das Leis (política), que façamos valer nosso direito como sacerdotes, discípulos e simpatizantes, brigar, vestir a camisa de nossa causa, ou teremos a II inquisição e seremos todos queimados nas Fogueiras –ditas Santas. Que ou trabalhamos dentro da tradição na certeza e verdade ou seremos todos devorados pelos leões.”
Esse recado tenho passado a todos que eu converso, mas nada se faz de positivo. Ou por medo ou por incapacidade. Os evangélicos estão tomando o poder, vejamos bem o numero de vereadores, deputados, ministros, senadores evangélicos eleitos pelo seu povo.
Ai você me pergunta... mas porque eles tem tanto apoio assim? – fácil, são unidos, lutam por aquilo que seus pastores incutem e mandam, eles querem todo o espaço, todo poder. Agora vejamos quantos padres existe na política? Quanto de nossa religião seja de candomblé, umbanda ou jurema existe na política, eleito por seu povo, quando falo “seu povo” me refiro aos demais praticantes de nossa religião, e porque não temos ninguém La? A resposta é simples e esta expressa em nossas ações, que por mais das vezes trocam seu voto por um saco de cimento, alguns tijolos e a maioria das vezes por R$ 10,00 a 50,00 reais.
É vergonhoso para nós que nos dizemos um povo forte, que somos de uma religião tão antiga quanto à humanidade, somos isso e aquilo, mas que sofremos com a discriminação, violência moral e física, que somos apontados e ridicularizados quando saímos á rua devidamente caracterizados como sacerdotes que somos e taxados pejorativamente de MACUMBEIROS, QUE SOMOS ADEPTOS DE SATANÁS. Nossos filhos são ridicularizados na escola, em reuniões de amigos, sendo a maioria das vezes deixados de lado, não convidados, agredidos fisicamente.
E quem é o maior culpado disso tudo? Deixo essa resposta a você que se deu o trabalho de ler esse meu desabafo.
SARAVA A JUREMA SAGRADA, SARAVA MALUNGUINHO ÚNICO E VERDEIRO GUARDIÃO DA JUREMA.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

CATIMBÓ



CATIMBÓ

Na Paraíba Rio Grande d Norte e em Pernambuco, os espíritos, que ali se chamam MESTRES podiam ser espíritos de índios, de brasileiros mestiços ou brancos, entre os quais se destacavam antigos líderes da própria religião já falecidos, os mestres, designação esta que acabou prevalecendo para designar todo e qualquer espírito desencarnado.

Essas manifestações também herdaram das religiões indígenas o uso do tabaco, ali fumado com o cachimbo, usado nos ritos curativos, além da ingestão cerimonial de uma beberagem mágica preparada com a planta da jurema.

Catimbó e jurema, os nomes pelos quais essa modalidade religiosa é conhecida resultam desses dois elementos.

Catimbó é provavelmente uma deturpação da palavra cachimbo, e jurema, é o nome da planta e da sua beberagem sagrada. Mais ao norte, no Maranhão e no Pará, os espíritos cultuados são personagens lendários que um dia teriam vivido na Terra mas que, por alguma razão, não conheceram a morte, tendo passado da vida terrena ao plano espiritual por meio de algum encantamento por isso são chamados de encantados.

Essa tradição de encantamento estava e está presente na cultura ocidental, bem como na mitologia indígena. Os encantados são de muitas origens: índios, africanos, mestiços, portugueses, turcos, ciganos, etc.Elementos da encantaria amazônica, como as histórias de botos que viram gente e vice-versa; lendas de pássaros fantásticos e peixes miraculosos, tudo isso foi compondo, ao longo do tempo

Pajelança, Torés, Rituais de Fogo entre outros, fazem parte desta linha de trabalhadores da Umbanda, que erroneamente são confundidos com Exús ou com espíritos maléficos. O ritual do Catimbó, ainda hoje pouco estudado mais muito difundido, emprega a magia das fumaças dos cachimbos virados, usa-se também tambores (Ilús) atabaques, gan, e outros instrumentos típicos do Candomblé e da Umbanda (Na Jurema Umbandizada que adotou os instrumentos usados na Umbanda.) Melqui Jurema/RN

A presença desses mestres e mestras é constante já há muito tempo, mais de forma errada e por se apresentarem junto com os Exús, passaram a ter seu culto difundido de forma errada. Trabalham em uma faixa de energia vibratória muito parecida com a dos Exús, ou seja o preto começando a clarear para o vermelho.

Daí a necessidade da incorporação nas giras de Exú. Como o culto do Catimbó foi esquecido e eles precisavam trabalhar e prestar a caridade, encontraram na gira de Exú a faixa vibratória perfeita para realização dos trabalhos.

São entidades presentes desde o começo da Umbanda, conhecendo todas as magias e feitiços. Não tem compromisso com qualquer Orixá ou entidade, respeitando somente a força de uma árvore conhecida como Jurema.

Segundo os mestres do Catimbó, é da jurema que foi feito a cruz para crucificação de Nosso Senhor Jesus Cristo. Trabalham com fogo, fumaça, pontos de fogo, caldeirões com feitiços, punhais e ossos. Trazem na sua origem os sertões do nordeste onde a fome era predominante, e o sol maltratava a todos.

Muitos foram vaqueiros, tocadores de boi e andarilhos sempre a procura de alguma diversão ou amores com mulheres da vida (algumas hoje também são grandes mestras do Catimbó). Hoje o culto do catimbó, começa a tomar força novamente e algumas casas já dão suas giras separadamente das giras de Exú. Suas bebidas vão desde a cachaça, passando pelas cervejas e chegando até os misturados das terras do norte, tipo Aluá.. Não são assentados e tem por obrigação a sua casa na entrada dos barracões.

São cultuados junto com as almas das segundas-feiras, recebem suas oferendas em portas de bar e em subidas de morro. Tem predileção pelo peixe frito e pelos petiscos em geral. Suas guias são de preto, vermelho e branco. Se vestem com roupas claras e alguns com roupas típicas das regiões onde viveram.

Dentre os Mestres e Mestras mais conhecidas, podemos citar Zé Pelintra, Mestre Junqueiro, Mestre Chico Pelintra, Mestre Antônio, Mestre Bira, Carioquinha, Cibamba, Zé da Virada, Seu Zé Malandrinho, Seu Malandro,Mestre Arranca Toco, Mestre Junqueiro, Mestra Maria Tereza, Mestra Maria da Luz, Mestra Josefa de Alagoas entre outras. Hoje a saudação usada pala louvar os mestres do Catimbó é A COSTA!!!

O MITO,O PRECONCEITO E O ERRO EM SUA DEFINIÇÃO

Entre muitos que freqüentam terreiros de Umbanda e Candomblé, Catimbó é sinônimo da prática,ou seja da macumba propriamente dita, para outros de Umbanda, trabalhar no Catimbó está associado ao uso de forças e energias de esquerda(negativa). Esta é uma visão equivocada.

Qualquer prática mágica pode ser usada com qualquer finalidade, mas, o objetivo do Catimbó é a evolução dos seus Mestres através do bem e da cura. Se o mal for feito, isto pode ocorrer pelo erro do médium ou pela necessidade de uma justiça a quem pede.

Catimbó é de base religiosa católica e não afro-brasileiro apesar de ter sofrido forte influência através do tempo.

O Catimbó é uma prática ritualista mágica com base na religião católica de onde busca os seus santos, óleos, água benta e outros objetos litúrgicos.

É também uma prática espírita que trabalha com a incorporação de espíritos desencarnados (eguns ou egunguns) chamados Mestres e é através deles que se trabalha principalmente para cura, mas também para a solução de alguns problemas materiais, e amorosos, como na Umbanda, mas é importante destacar que a prática da cura é a principal finalidade.

Não se encontra no Catimbó, nas suas práticas e liturgias os elementos das nações africanas de forma que classificar o Catimbó como uma seita afro-brasileira é um erro.

Mestres não se subordinam a Orixá e fora o aspecto de que certamente ele é, também, praticado por Negros não existe outra relação direta com a religião africana.

De fato a mitologia e teogonia do Candomblé é rica e complexa, a do Catimbó é pobre e incipiente, seja porque a antiga mitologia indígena perdeu-se na desintegração das tribos primitivas, na passagem da cultura local para a cultura dos brancos, que estavam dispostos a aceitar os ritos, porém não os dogmas pagãos, na sua fidelidade ao catolicismo – seja porque o Catimbó foi, mais, concebido como magia do que como religião propriamente dita, devido sobretudo aos elementos perigosos e temíveis e às perseguições primeiro da igreja e depois da polícia.

Além dos dogmas da religião católica o Catimbó incorporou componentes europeus como o uso do caldeirão e rituais de magia muito próximos das praticas Wiccas. Tanto dos europeus como dos brasileiros o uso de ervas e raízes é básico e fundamental nos rituais. Cada Mestre se especializa em determinada erva ou raiz.

Não existe Catimbó sem santo católico, sem terço, sem água benta, sem reza, sem fumaça de cachimbo e sem bebida, que pode nem sempre ser a Jurema.

O Catimbó de hoje é o resultado desta fusão da prática pagã inicial dos índios com o catolicismo sobre o qual construiu a base da “ religião” . É impossível dissociar o Catimbó do catolicismo e de outras tradições européias, provavelmente adquiridas dos holandeses, mesmo após as influências que recebeu do Candomblé e do kardecismo.

Podemos considerar que a mesma falta de força étnica que fez com que os índios fossem antropologicamente sobrepujados por outras culturas fez com que o Catimbó perde-se a sua identidade índia original (pajelança) e adquirisse os rituais importados de outras práticas religiosas mais “fortes”. Neste caso contribuiu muito a falta da cultura escrita que fez com que na medida em que os próprios índios eram extintos a prática religiosas Xamanista fosse sendo perdida ou diluída.

Entretanto do Xamanismo original foram preservadas as ervas e raízes nativas como base de todos os trabalhos e na prática da fumigação com fumaça de cachimbos e fumos especialmente preparados o elemento mágico de difusão.

Para o índio, o fumo é a planta sagrada e é a sua fumaça que cura as doenças, proporcionando e êxtase, dá poderes sobrenaturais, põe o pajé em comunicação com os espíritos.

Os primeiro elementos do Catimbó que devemos lembrar é o uso da defumação para curar doenças, o emprego do fumo para entrar em estado de transe, a idéia do mundo dos espíritos entre os quais a alma viaja durante o êxtase, onde há casa e cidades análogas às nossas. A grande diferença é que a fumaça na pajelança é absorvida, enquanto no Catimbó ela é expelida. O poder intoxicante do fumo é substituído aqui pela ação da jurema.

O Catimbó se desenvolveu diferentemente no interior e no litoral, nas capitais. As influências de outras práticas religiosas mais fortes em cada um deste locais acabam determinando o formato do Catimbó. Podemos dizer que quanto mais para o interior mais simples ele será devido a menor influência das religiões africanas.

ORGANIZAÇÃO DA CASA

A organização de casas de Catimbó é muito simples, tão simples como as pessoas que o organizam e freqüentam.

Possivelmente é esta simplicidade que o faz tão fácil de ser entendido e tão forte mesmo em lugares onde existem terreiros de Candomblé, Xangô ou Umbanda.

No Catimbó o gongá é substituído por uma mesa, literalmente uma mesa, sendo que eventualmente estas pode ser o próprio chão do local.
Nesta mesa estarão colocadas as princesas e príncipes com os fundamentos(Ciência) de cada Mestre, poderá conter também algumas imagens, principalmente de santos católicos, não é o padrão os mestres serem representados por imagens em profusão como na Umbanda, castiçais de vela são essenciais, assim como os cachimbos dos mestres.( vejo a profusão de estátuas dos mestres em uma mesa de Jurema após a influência da Umbanda no Nordeste, que antes não se via, só existiam estátuas de Santos católicos. A qual iniciou-se nas capitais onde a Umbanda veio influenciando os ritos locais. Melqui Jurema/RN

A mesa poderá estar em um local central, no caso de os trabalhos serem em volta da mesma, mas normalmente estará em uma posição de destaque, mas nas extremidades da sala.

O resto do espaço litúrgico é aberto e não existe separação entre os discípulos, os mestres e os freqüentadores. As pessoas se misturam, existe um acesso informal dos mestres com os freqüentadores.

Normalmente os discípulos se colocam em círculo, fazendo a roda da Jurema, cantando e dançando junto com os mestres e os convidados em volta. Na medida em os mestres forem "virando" eles vão estar no centro o Roda.

Hierarquia

No alto da organização existe o Mestre principal, o mais poderoso de todos e que é responsável pela casa. Como toda casa tem um dono o mesmo ocorre no Catimbó. Abaixo deste encontraremos os discípulos-mestres que já estão desenvolvidos e trabalham com seus mestres com seus cachimbos consagrados. A seguir estarão os demais discípulos em estágio de desenvolvimento, com ou sem o seu cachimbo.

O processo de desenvolvimento é gradual, mas, não segue as rígida estrutura de liturgias de Xangôs e Candomblés. Os mestres irão se acostar nos discípulos na medida em que quiserem e o discípulo irá aprendendo com seu Mestre na medida do seu desenvolvimento. O poder mágico é lentamente obtido e mais de um mestre poderão trabalhar com cada discípulo.
( Na jurema antiga o mestre da mesa trabalhava com seu mestre Espiritual assesorado pelo(a) curupiro(a) que é uma pessoa que não acosta mestre, equivalente ao Ogan ou Ekede do Candomblé ou Cambono da Umbanda, ele trabalhava de acordo com a necessidade das pessoas presentes, se era doença material vinha um determinado Mestre e passava um chá, garrafada, se era algum tipo de bruxaria, feitiço, etc. Ele marcava um outro dia em hora determinada para desmanchar o trabalho maléfico, se era uma gestante vinha uma das Mestras especialista no caso e receitava e fazia o acompanhamento da gestante, outrora tinha muita gente apadrinhada por mestres ou mestras, em agradecimento pelas curas alcançadas.) Melqui jurema/RN

Um discípulo será tão importante e forte quanto seja o seu Mestre, nos trabalhos de cura e ajuda aos freqüentadores; e também o quanto de poder e magia este mesmo discípulo tenha no trabalho não incorporado, através do seu cachimbo.

O trabalho no Catimbó pode ser feito sem a incorporação e os discípulos desenvolvidos devem ter a capacidade de invocar o trabalho mágico dos seus mestres sem estes estarem acostados. Esta é a medida do poder e força de um discípulo.

O Catimbó é uma manifestação de Umbanda, no sentido amplo que esta palavra tem, mas, não pode ser confundido com uma religião afro ou com os formatos tradicionais de Umbanda.
(Uma manifestação espiritual que não tem nada a ver com a Umbanda
A história do Catimbó precede a história da Umbanda.)

No Catimbó não há promessas, votos, unidade do protocolo sagrado. É um consultório tendendo cada vez mais, para a simplificação ritual.

De instrumentos musicais a cabacinha na ponta de uma vareta, com que o Mestre divide o compasso das linhas. Contudo os Catimbós absorveram facilmente os tambores da umbanda trazendo o seu ritmo e musicalidade.

Não há cores formais, vestidos , contas (apesar de existirem fios-de-conta de Catimbó, feitos com a cabaça e lágrimas de Nossa Senhora), enfeites especiais nem alimentos privativos, fetiches de representação.
(sempre conheci catimbozeiros que se vestiam de branco, nas sessões de mesa os homens usavam chapéus de palha, as mulheres usavam um lenço amarrado na cabeça, eram roupas de tecidos simples) *

Catimbó não é Macumba nem Candomblé, permanece isolado, diverso, distinto.

No Catimbó, os que acostam são catimbozeiros falecidos. Não há um só Mestre que não tenha vivido na Terra.

No Catimbó não se louvam orixás africanos e raro são trabalhos de chão. As coisas no Catimbó são simples e baratas feitas para serem acessíveis à população que o Catimbó serve. O Catimbó se serve de uma vela, fitas, cascas, folhas, fumo e bebida para realizar os seus trabalhos. Normalmente as coisas são resolvidas na própria roda de Catimbó.

Os caboclos podem ser vistos no Catimbó, mas, não são eles a base ou o objetivo principal. Caboclo é entidade de UMBANDA. Catimbó trabalha através de Mestres.
(No catimbó sempre houve caboclos que hoje se desconhece os nomes de tão antigos, mas os antigos sabem disto se conhece tribos inteiras que trabalham na jurema, os Canindés por exemplo é uma das poucas tribos que trabalham na Jurema

Como já citado o fato de entidades típicas de Umbanda aparecerem no Catimbó devido a origem do mediuns e ao fato de existir uma entidade comum chamada de Zé Pelintra faz com que se imagine que Catimbó seja uma forma de Umbanda no Nordeste.

Tudo no Catimbó se faz com a linha de licença, onde se fala, sisudamente: “Com o poder de Jesus Cristo, vamos trabalhar”. Das centenas de canções recolhidas no arquivos catimbozeiro, nenhuma alude a um encantado e infalivelmente a Deus, Santíssima Trindade, Santos, às almas. O espírito é religioso, formalístico, disciplinado, respeitoso da hierarquia celestial

Catimbó NÃO TEM EXU, NÂO TEM POMBO-GIRA e não tem Orixá sincretizado em Santo. No Catimbó Santo é Santo e Mestre é Mestre. Mestre trabalha na direita e a esquerda, faz e desfaz. Hoje já vemos casa de jurema com seus exus guardiões firmados, não é errado é mais uma influencia da Umbanda, porque firmamos um exu de porteira, para fazer juntamente com o guardião da jurema – MALUNGUINHO – a nossa defesa, e de nossos clientes e filhos da casa.**

A FUNÇÃO DOS MESTRES DO CATIMBÓ

Nesta generalização podemos entender muito bem o como e porque do culto do Catimbó. Em uma região dominada pela pobreza e falta de assistência a população carente de assistência médica sendo a doença um temor presente e terrível.

Neste sentido os Mestres se apresentam como enviados para socorrer e aliviar o sofrimento dos desassistidos oferecendo a tradição da medicina fitoterápica, herdade dos índios para ajudar a população. Por outro lado em regiões de pessoas simples mas que são submetidas a poderosos e violentos a jagunços onde falta a justiça do homem e a única proteção que todos podem contar é a misericórdia divina, os Mestres são como anjos vingadores que, apesar de ainda fortemente influenciados por suas manias e imperfeições humanas, se colocam assim mesmo como protetores e defensores de gente desassistida.

Desta maneira podemos entender que os caminhos de Deus são inúmeros e que a espiritualidade se manifesta conforme a necessidade para garantir uma vida justa e decente aos habitantes desta terra abandonada.

É neste contexto que o Catimbó se insere, absorvendo a tradição religiosa de gente simples e adicionando a esta base espiritual fortemente calçada em princípios de ética, bondade e misericórdia do cristianismo a necessidade do dia a dia introduzindo os ritos mágicos de trabalho e o trabalho dos espíritos acostados.

Seria muito mais difícil se o Catimbó trouxesse uma doutrina religiosa própria. Na realidade seria até mesmo impróprio ou desnecessário. Trata-se de gente muito simples que aprendeu e passou a vida toda aprendendo só conceitos e ensinamentos católicos estando possivelmente muito acostumados e doutrinados nesta verdadeira fé.

Mestres e seu fundamento no Catimbó

No panteão juremista existem vários Mestres e Mestras, cada qual responsável por uma atividade relacionada aos diversos campos da existência humana (cura de doenças, trabalho, amor...). Há ainda aqueles responsáveis por fazer trabalhos contra os inimigos.

Nas mesas e rodas as representações das entidades relacionadas nesta categoria são as mais elaboradas, geralmente possuindo o “estado completo” e a jurema plantada; em especial a do Mestre da casa, aquele que incorpora o juremeiro, faz consultas e inicia os afilhados nos segredos do culto. Por tudo isso este Mestre é carinhosamente chamado de “meu padrinho”.

Aliás esta característica de independência dos Mestres é que os tornam muito eficazes e temidos. São entidades que trabalham com magia direita e esquerda e não estão contidos por critérios ligados a Orixás. Não que os Mestres sejam desprovidos de justiça e bom senso, ou mesmo superiores a outras entidades e aos Orixás, mas o seu trabalho não depende de hierarquias complexas de serem atendidas.

Os Mestres são guias, orixás sem culto, acostando espontaneamente ou invocados para servir. Cada um possui fisionomia própria, gestos, vozes, manias e predileções. São muito ligados a sua última vida e as coisas terrenas por isso fazem questão de algumas peças de indumentária, mas. A fisionomia é uma forma muito característica de se reconhecer um Mestre. Com um pouco de experiência pode-se reconhecer um Mestre pelos trejeitos, posição das mãos, da boca e forma de andar.

Cada Mestre tem sua linha, um canto ou cantiga, de melodia simples. Há Mestres que não tem linha, como Mestre Antonio Tirano e Malunginho, ambos ferozes. Essa linha era cantada como uma invocação ao Mestre. Sem canto não há encanto. Todo feitiço é feito musicalmente. A linha é o anuncio e o pregão característico do Mestre.

Cada Mestre está associado a uma cidade espiritual e a uma determinada planta de ciência (angico, vajucá, junça, quebra-pedra, palmeira, arruda, lírio, angélica, imburana de cheiro e a própria jurema, entre outros vegetais), existindo ainda alguns relacionados à fauna nordestina. Para os Mestres relacionados a uma planta que não a jurema, são estas plantas que têm seus troncos plantados nas mesas dos discípulos.

Por exemplo, a cidade do Mestre angico deve ser plantada em um tronco da arvore do mesmo nome; as cidades das mestras geralmente são plantadas em troncos de imburana de cheiro.

Os que têm relação com animais, acredita-se que eles possam encantar-se em animais das espécies referidas, aparecendo em sonhos, visagens e, muitas vezes, metamorfoseados quando incorporados em seus discípulos.

Como oferendas, os Mestres recebem a cachaça, o fumo (seja nos charutos ou cachimbos), alimentos próprios de cada um e a jurema, bebida feita com o sumo vermelho retirado da casca e da raiz da jurema e que pode receber outras ervas e componentes (cachaça, melado, canela, gengibre e outras à gosto).

Nos terreiros que sofreram maior influência dos cultos africanos, é comum o Mestre receber sacrifícios de galos vermelhos, bodes e muitas vezes de novilhos, mas isto é uma deturpação do culto da jurema que por suas origens indígenas (caboclos) e católicas não tem a tradição ou necessidade de sacrifícios em suas liturgias.

Não que isto seja errado ou negativo, mas apenas que não faz parte de suas bases sendo mais um fenômeno de Umbandização.


VISÃO GERAL DO CATIMBÓ

Catimbó é uma pratica mágica baseada no Cristianismo de onde apóia toda a sua doutrina religiosa. O Catimbó não inventa Deuses ou os importa da África porque não faz parte das religiões afro-brasileiras.

Isto pode parecer polêmico, mas, o Catimbó não é afro, não é Candomblé e não é a Umbanda como se conhece comumente, mas pode ser considerado uma manifestação de Umbanda.

Catimbó nao é uma religião ou seita, podemos considerá-lo um culto, uma vez que não encontrarmos os elementos estruturados que são característicos, como os fundamentos religiosos próprios, com liturgias e dogmas. O Catimbó se apóia totalmente na religião católica, apesar de guardar um pouco das práticas pagãs, vindas da bruxaria européia e da pajelança indígena. A Jurema esta dentro dos padrões de religião, desde a aprovação de lei.***

Ele pode se parecer um pouco com a Umbanda, mas, nem um pouco com o Candomblé. A semelhança com a Umbanda é devido ao trabalho com entidades incorporadas. Entretanto, os Mestres do Catimbó possuem uma teatralidade de incorporação muito típica e discreta, e o Catimbó esta longe do trabalho da Umbanda. Outra coincidência é a presença da entidade Zé Pelintra que no Catimbó é dito como mestre e na Umbanda é muito cultuado como Exu ou Malandro. Catimbó não é a Umbanda que você conhece!

O Catimbó tem uma raiz indígena que foi se perdendo com o tempo. Não há dúvida que o Catimbó é Xamanista com muita práticas de pajelança, mas, não é baseados em Caboclos e sim em Mestres, apesar de que os Caboclos também terem participação.

O Catimbó não é muito diferente ou melhor do que estes cultos que citamos, não podemos dizer inclusive que suas entidades sejam de nível superior, pelo contrário, sob o ponto de vista espírita-kardecista são ainda entidades de baixa energia e que guardam muitas referências com a última vida que tiveram em "terra fria".

No Catimbó faz-se o bem, através de curas, problemas sentimentais, mas, também o mal, dependendo da cabeça de que o dirige, infelizmente, como em outras práticas.
O Catimbó é influenciado pela feitiçaria européia de onde adotou várias práticas.

O Catimbó é uma reunião alegre e festiva quando em sua forma de roda (ou gira), mas, pela falta da corrente doutrinaria formal, vários formatos serão encontrados, dependendo da “ciência”, vidência, maturidade e ética de quem o dirige e realiza.

Quem são os "Mestres do Catimbó"

O termo Mestre é de origem portuguesa, onde tinha o sentido tradicional de médico, ou segundo Câmara Cascudo, de feiticeiro. Este é o primeiro elemento de ligação do Catimbó com tradições européias, provavelmente cabalistas e mostra também nestes 2 significados a expressão semântica do trabalho do Mestre, a cura e a magia.

De forma geral os Mestres são descritos como espíritos curadores de descendência escrava ou mestiça, que em suma é a característica dos habitantes das regiões onde o Catimbó floresce, mas que não deve ser tratado como um dogma.

Dizem os juremeiros que os Mestres foram pessoas que quando em vida trabalharam nas lavouras e possuíam conhecimentos de ervas e plantas curativas. Por outro lado algo trágico teria acontecido e eles teriam passado, isto é, morrido, encantando-se, podendo assim voltar a acudir os que ficaram.

Não existe Mestre do bem ou do mal. O Mestre é uma entidade que pode fazer o bem ou o mal de acordo com a sua conveniência, necessidade, da ordem da casa e da ocasião.
OS METRES

Mestre Aroeira

Mestre sério e de muito fundamento. É um dos primeiros a serem chamados para abrir os trabalhos junto com o Mestre Junqueira.

É um mestre curador que gosta de trabalhar na esquerda. A aroeira é sua erva de fundamento de trabalho.

Mestre Carlos

Rei dos mestres, conhecidíssimo em qualquer sessão de Catimbó.

Era um rapaz que gostava de beber e jogar "farrista", andava no meio de "mulheres perdidas e gente livre", Filho do Inácio de Oliveira, conhecido feiticeiro.

O pai tinha desgosto e não o queria iniciar na feitiçaria. Contam, então, que Mestre Carlos "aprendeu sem lhe ensinar", quando de uma bebedeira caiu num tronco de Jurema e morreu após 3 dias.

Essa bebedeira seria o resultado de práticas rituais do Catimbó exercidas solitariamente e sem iniciação. Um dia o pai saiu de casa e Carlos, com 13 anos apenas, penetrou no "estado", tirou objetos imprescindíveis de invocação e saiu com eles.

Foi num mato de juremeiras e iluminado por uma presciência maravilhosa conseguiu abrir uma sessão sozinho e invocar um mestre. Logo como em geral sucede, quando o mestre se desmaterializou outra vez caiu desacordado. O pai chegou em casa, Carlinhos nada de voltar. No dia seguinte a inquietação principiou. Andaram a procura do menino por toda a parte e no outro dia seguinte, Inácio de Oliveira, desesperado, reuniu gente e fez uma sessão. Quando caiu em transe, que mestre entrara no corpo dele?
Nada menos que Mestre Carlos o mestre menino.

Mestre Carlos é caracterizado como uma entidade alegre, que gosta de brincar e rir durante as sessões; gosta de bebida, bebe jurema e cachaça. Especialista em casamentos e descobridor de segredos, estando sempre pronto para o bem e o mal.

Considerado pelos juremeiros como um mestre curador. Quando incorporado o medium transforma a fisionomia, fica meio estrábico, os lábios ficam em forma de bico; fala muito, conversa com os presentes, gesticula, brinca, ri, receita garrafadas e dá passes.



AS DIVERSAS CORRENTES

Não se pode no Brasil falar em religiões puras. O sincretismo entre correntes religiosas é a regra e não um privilégio.

Consideremos sincretismo a unificação ou fusão de diferentes cultos e doutrinas com a reinterpretação de seus elementos.

Negros, indígenas e europeus fundiram-se no Catimbó. A concepção da magia, processos de encantamento, termos, orações, são da bruxaria ibérica, vinda e transmitida oralmente.

A terapêutica vegetal é indígena pela abundância e proximidade, além da tradição médica dos pajés. O bruxo europeu também já trazia o hábito e encontrou no continente a fartura de raízes, vergônteas, folhas, frutos, cascas, flores e ainda a ciência secular aborígene na mesma direção e horizonte. A convergência foi imediata.

Influência do Negro

Com o negro africano houve fenômeno idêntico. Apenas quando arredado do leito da lavoura açucareira, velho, trêmulo e sempre amoroso, assumiu posição mais decisiva como Mestre orientador e dono dos segredos. Pelo simples fato de viver muito, existe, espontaneamente, um sugestão de sabedoria ao redor de sua imagem.

Quem muito vive, muito sabe. O diabo não sabe por ser diabo, mas por ser muito velho. Velhice é sabedoria. O saber, tendo como base experiências acumuladas, mantém-se na memória popular como o melhor e lógico. Doutor novo, experimenta. Doutor velho, trata. O negro escravo, de cabeça branca, representava um indiscutido prestígio misterioso. O “negro-velho” era assombroso “faz medo a menino”, curador, rastejador, vencendo o veneno da cobra, da faca fria e da bala quente.

Angolas, Benguelas, Canbindas foram os nossos Pais Pretos, Negro do Congo, Pai Angola, Negro de Luanda, vivos nas estórias populares, anedotários, feitiços. Bantos são topônimos negros do Rio Grande do Norte, cafuca, cafundó, cafunga, cassangue, catunda, massagana, mocambo, zumbi, buíque, cabugá. Foram armados depressa, subindo na fama coletiva. Deram armas, mucamas, amas-de-leite, mães pretas, xodós dos senhores de engenho, dor de cabeça da Senhora Dona, fidalgas e preferidas.

Os maiores Mestres de Catimbó foram negros e ainda o são, em maioria absoluta, mestiços e mulatos. Do cerimonial das macumbas dos bantos, o Catimbó mantém as linhas, significando a procedência dos encantados, nações, invocação dos antigos negros valorosos. Em função disso podemos considerar como comum, além dos mestres a presenças de pretos velhos trabalhando no Catimbó.


Neste texto que achei muito interessante vemos que no Catimbó-Jurema não existem os famosos Exús de Umbanda, hoje vemos na maioria das casas a jurema umbandizada que foi a forte influência da Umbanda quando veio do sudeste para o Nordeste, chegou influenciando e sendo ao mesmo tempo influenciada pelos ritos locais.
Se um umbandista do sudeste vier para o Nordeste e assistir uma gira de umbanda com certeza vai criar-lhe muitas interrogações, que com certeza vai ficar um tanto difícil de entender.
Quando vemos na jurema um mestre saudar um orixá já sabemos que vem da influência da Umbanda, a casa, o médium,etc.
A Jurema tradicional é de mesa, não tem tambor, é maracá.
Isto não quer dizer que a jurema que se toca com tambor esteja errada não... é uma versão do culto mais moderno.

Melqui – Juremeiro da Cidade do Natal /RN
Transcrito por Joana Juremeira.
• *- Explicando o uso do tosso
• ** - Usando a aglutinação religiosa
• ***- Alterações feitas devido a atualização legislativa. (alterações feitas por Joana Juremeira)










sábado, 20 de agosto de 2011

SAUDADES DOS VELHOS TEMPOS




Inicio esse texto pedindo abenção aos mais velhos e rogando a Jurema Sagrada que abençoe aos mais novos.

Saudades dos velhos tempos sim, tempos onde se respeitavam os mais velhos consequentemente mais sábios, do tempo que se aceitava conselhos, opiniões, e sugestões...saudades de quando uma pessoa com um pouco mais de idade que a gente falava, se escutava e se nao gostava ficava calado, se nao concordava tambem nao rebatia com grosseria.

Ah! quanta saudade da ordem dentro dos terreiros, quando ao chegarmos da escola íamos ao barracão e sentavamos a ouvir nosso Pai de santo ou Padrinho ou Juremeiro, os ensinamentos, e tinha dias que era destinado a aprendermos a cantar, a rezar, a dançar na gira, a limpar e cuidar dos objetos dos pejís.

Nesse tempo se uma pessoa dissesse ou escrevesse apos uma orientação, uma aula de sabedoria de um mais antigo, o seguinte...é voces que sao alunos aprendam.... gente essas entrelinhas diz claro que a pessoa q escreveu nao precisa de ensinamentos, já sabe de tudo, é dono do saber. O que é isso? onde estamos que nos permitimos que um mais jovem rebata um mais velho com tais palavras isso para nao comentar outras coisas.

Saudades sim, da casa de meu pai de santo onde aprendi o pouco que sei, onde fui orientada como me dirigir aos mais antigos, a respeitar a hierarquia, a baixar a cabeça e escutar com atenção as palavras de uma entidade, e principalmente aprendi a passar tudo aos meus filhos.

A nossa ciencia nao é receita de bolo para ser publicada em sua integra, em seus segredos, em seus fundamentos, quer saber da ciencia da jurema? frequente uma casa de jurema, trabalhe junto aos seus irmaos na humildade, auxilie as entidades e aprenda com elas, converse com o responsavel pela casa, sem medo, sem temor, pois so ele pode te orientar da maneira correta, lembrem-se de suas ações corretas teras os louros, e seu zelador ou juremeiro ou pai de santo tambem terá os louros, do mesmo jeito que suas ações erradas, seu zelador, pai de santo, juremeiro, é que tera seu nome jogado a lama, pois se voce faz errado é porque voce assim aprendeu. Nós sacerdotes e sacerdotizas temos um nomer a zelar, uma casa de religiao a manter e muitos dependem de nosso bom nome.

Saudades sim do tempo que se colocava uma vela, um cachimbo e um galhinho de aroeira e se abria uma jurema de chao, hoje ja é jurema sentada visto q a grande maioria dos filhos tem problemas de coluna e tals..quando o mestre ao som apenas de maracas e palmas, chegava sentava numa poty ou banquinho, e pegava sua marca, e limpava a todos, tomava 2 doses de jurema na Kenga, conversava com as pessoas e sabia quem da assistencia estava com problema, mas sem coragem de ir ate o mestre, e que ele assim chamava o (a) caboclo ou cabocla, para ser consultado, pegava o galho de aroeira ou outro, e rezava a pessoa, que saia muito bem, curado do seu incomodo, com uma nova prespectiva de vida, orientado corretamente de como proceder dali em diante.

Eita saudades dos pretos velhos...adorei as almas, que com seu café cozido na porta nos fazia sentir tao leves, das mestras que nos mostravam que nao se deve tomar o que é das outras, pois um dia alguem nos tomará o que pensamos ser nosso.

Finalizo essa minha divagação de saudades dos bons tempos espirituais, saravando a nossa Jurema sagrada, ao meu mestre Arranca Toco, a meu Padrinho Ze da Virada, e ao padrinho de todo juremeiros Ze Pelintra, principalmente. saudo nosso querido Malunguinho, Rei das matas e unico e verdadeiro guardião da jurema.

Joana Juremeira

domingo, 14 de agosto de 2011

Uma Conversa



Outro dia em conversa com um amigo/irmão, surgiu um assunto que depois percebi que fora um recado que deveria ser passado adiante.
Inicia-se com uma noticia que não foi aprovada a lei de regulamentação dos terreiros, porque a bancada política composta na sua maioria de evangélicos é contra a aprovação, e que tem alguém se beneficiando com isso.
* grande novidade, os evangélicos tem grana e nos religiosos de matriz afro brasileira não temos, não exploramos ninguém, não fazemos fogueiras disso e daquilo, não exigimos que se tudo de tem para ser beneficiado, não cobramos dízimos.
- eu acho que nosso povo tem que criar uma ONG de nível federal,
Sei lá, uma federal que todos se unissem pra ganhar forças;
* antes de dizer qualquer coisa, quero te fazer uma pergunta... voce conhece um povo mais desunido que o nosso?
- não conheço!
* pronto respondi a seu comentário de se fazer uma ONG
- teve uma gira sábado passado e a policia pediu pra para de toca no tambor, quando eu fui falar com a polícia, muitos membros sairão de perto, se fosse na igreja católica ou evangélica, todos chegaria junto
Porque eles são unidos e não tem temor de nada.
* por isso estão cada vez mais ganhando espaços, e se não acordarmos teremos muito em breve a 2ª inquisição e seremos queimados em praça publica hoje li um comentário na face book de um irmão de jurema de Goiás, q dizia mais ou menos assim: os juremeiros passaram tantos anos, décadas, sendo perseguidos, tendo de ficar calados, escondidos, que ainda não absorveram, a certeza q são livres de cultuar sua jurema. Realmente de todas as religiões a mais perseguida foi a nossa amada jurema, que era conhecida como catimbó, os catimbozeiros eram presos durante seus cultos, já o faziam as escondidas, na mata e mesmo assim ainda eram descobertos, surrados, e muitas vezes mortos em plena mata.
- muito forte esse comentário, meu padrinho fala muito sobre o q os juremeiros sofrerão
* pois bem, e hoje vemos pessoas q nem saiu das fraldas se dizendo mestre de jurema, guardião disso e daquilo, querendo aparecer na mídia, esquecendo de fazer sua parte da reconstrução de nossa liberdade, brigando por títulos, fazendo besteiras, metendo os pés pelas mãos, e querendo aplausos, e se você não aplaude, eles se revoltam com você e te queimam na cidade.
- e o pior! É que os velhos ainda dão ousadia.
* ao mais antigos ainda tem medo de falar abertamente, na minha ciência e raiz temos todo respeito pela hierarquia, os mais velhos são super respeitados, a palavra deles é um balsamo a nossos ouvidos e corações, eles são sábios, e nos aprendizes
- o que eu quis dizer, que em muitos velhos a jurema que quando vê um de fralda dando uma de mestre, se curva perante ele
* pois é... mas isso cabe a nos mudar, conscientizar os mais antigos que nos q nos curvamos a eles, a experiências e sabedoria deles.
E com essa conversa eu quero apenas deixar publico um alerta a todos juremeiros, discípulos, filhos de santos de todas as nações, que cuidem de sua ancestralidade, que os mostre que os tempos são outros, que conseguimos ter voz, e estamos conseguindo nosso espaço.
Não podemos deixar morrer ou voltar ao ostracismo de décadas atrás, vamos falar, brigar por nosso lugar na sociedade, nosso espaço no mundo.
Sarava a Jurema Sagrada, me abençoe os mais velhos, mais sábios.
Sarava Malunguinho único é verdadeiro GUARDIÃO DA JUREMA