terça-feira, 30 de agosto de 2011

CATIMBÓ



CATIMBÓ

Na Paraíba Rio Grande d Norte e em Pernambuco, os espíritos, que ali se chamam MESTRES podiam ser espíritos de índios, de brasileiros mestiços ou brancos, entre os quais se destacavam antigos líderes da própria religião já falecidos, os mestres, designação esta que acabou prevalecendo para designar todo e qualquer espírito desencarnado.

Essas manifestações também herdaram das religiões indígenas o uso do tabaco, ali fumado com o cachimbo, usado nos ritos curativos, além da ingestão cerimonial de uma beberagem mágica preparada com a planta da jurema.

Catimbó e jurema, os nomes pelos quais essa modalidade religiosa é conhecida resultam desses dois elementos.

Catimbó é provavelmente uma deturpação da palavra cachimbo, e jurema, é o nome da planta e da sua beberagem sagrada. Mais ao norte, no Maranhão e no Pará, os espíritos cultuados são personagens lendários que um dia teriam vivido na Terra mas que, por alguma razão, não conheceram a morte, tendo passado da vida terrena ao plano espiritual por meio de algum encantamento por isso são chamados de encantados.

Essa tradição de encantamento estava e está presente na cultura ocidental, bem como na mitologia indígena. Os encantados são de muitas origens: índios, africanos, mestiços, portugueses, turcos, ciganos, etc.Elementos da encantaria amazônica, como as histórias de botos que viram gente e vice-versa; lendas de pássaros fantásticos e peixes miraculosos, tudo isso foi compondo, ao longo do tempo

Pajelança, Torés, Rituais de Fogo entre outros, fazem parte desta linha de trabalhadores da Umbanda, que erroneamente são confundidos com Exús ou com espíritos maléficos. O ritual do Catimbó, ainda hoje pouco estudado mais muito difundido, emprega a magia das fumaças dos cachimbos virados, usa-se também tambores (Ilús) atabaques, gan, e outros instrumentos típicos do Candomblé e da Umbanda (Na Jurema Umbandizada que adotou os instrumentos usados na Umbanda.) Melqui Jurema/RN

A presença desses mestres e mestras é constante já há muito tempo, mais de forma errada e por se apresentarem junto com os Exús, passaram a ter seu culto difundido de forma errada. Trabalham em uma faixa de energia vibratória muito parecida com a dos Exús, ou seja o preto começando a clarear para o vermelho.

Daí a necessidade da incorporação nas giras de Exú. Como o culto do Catimbó foi esquecido e eles precisavam trabalhar e prestar a caridade, encontraram na gira de Exú a faixa vibratória perfeita para realização dos trabalhos.

São entidades presentes desde o começo da Umbanda, conhecendo todas as magias e feitiços. Não tem compromisso com qualquer Orixá ou entidade, respeitando somente a força de uma árvore conhecida como Jurema.

Segundo os mestres do Catimbó, é da jurema que foi feito a cruz para crucificação de Nosso Senhor Jesus Cristo. Trabalham com fogo, fumaça, pontos de fogo, caldeirões com feitiços, punhais e ossos. Trazem na sua origem os sertões do nordeste onde a fome era predominante, e o sol maltratava a todos.

Muitos foram vaqueiros, tocadores de boi e andarilhos sempre a procura de alguma diversão ou amores com mulheres da vida (algumas hoje também são grandes mestras do Catimbó). Hoje o culto do catimbó, começa a tomar força novamente e algumas casas já dão suas giras separadamente das giras de Exú. Suas bebidas vão desde a cachaça, passando pelas cervejas e chegando até os misturados das terras do norte, tipo Aluá.. Não são assentados e tem por obrigação a sua casa na entrada dos barracões.

São cultuados junto com as almas das segundas-feiras, recebem suas oferendas em portas de bar e em subidas de morro. Tem predileção pelo peixe frito e pelos petiscos em geral. Suas guias são de preto, vermelho e branco. Se vestem com roupas claras e alguns com roupas típicas das regiões onde viveram.

Dentre os Mestres e Mestras mais conhecidas, podemos citar Zé Pelintra, Mestre Junqueiro, Mestre Chico Pelintra, Mestre Antônio, Mestre Bira, Carioquinha, Cibamba, Zé da Virada, Seu Zé Malandrinho, Seu Malandro,Mestre Arranca Toco, Mestre Junqueiro, Mestra Maria Tereza, Mestra Maria da Luz, Mestra Josefa de Alagoas entre outras. Hoje a saudação usada pala louvar os mestres do Catimbó é A COSTA!!!

O MITO,O PRECONCEITO E O ERRO EM SUA DEFINIÇÃO

Entre muitos que freqüentam terreiros de Umbanda e Candomblé, Catimbó é sinônimo da prática,ou seja da macumba propriamente dita, para outros de Umbanda, trabalhar no Catimbó está associado ao uso de forças e energias de esquerda(negativa). Esta é uma visão equivocada.

Qualquer prática mágica pode ser usada com qualquer finalidade, mas, o objetivo do Catimbó é a evolução dos seus Mestres através do bem e da cura. Se o mal for feito, isto pode ocorrer pelo erro do médium ou pela necessidade de uma justiça a quem pede.

Catimbó é de base religiosa católica e não afro-brasileiro apesar de ter sofrido forte influência através do tempo.

O Catimbó é uma prática ritualista mágica com base na religião católica de onde busca os seus santos, óleos, água benta e outros objetos litúrgicos.

É também uma prática espírita que trabalha com a incorporação de espíritos desencarnados (eguns ou egunguns) chamados Mestres e é através deles que se trabalha principalmente para cura, mas também para a solução de alguns problemas materiais, e amorosos, como na Umbanda, mas é importante destacar que a prática da cura é a principal finalidade.

Não se encontra no Catimbó, nas suas práticas e liturgias os elementos das nações africanas de forma que classificar o Catimbó como uma seita afro-brasileira é um erro.

Mestres não se subordinam a Orixá e fora o aspecto de que certamente ele é, também, praticado por Negros não existe outra relação direta com a religião africana.

De fato a mitologia e teogonia do Candomblé é rica e complexa, a do Catimbó é pobre e incipiente, seja porque a antiga mitologia indígena perdeu-se na desintegração das tribos primitivas, na passagem da cultura local para a cultura dos brancos, que estavam dispostos a aceitar os ritos, porém não os dogmas pagãos, na sua fidelidade ao catolicismo – seja porque o Catimbó foi, mais, concebido como magia do que como religião propriamente dita, devido sobretudo aos elementos perigosos e temíveis e às perseguições primeiro da igreja e depois da polícia.

Além dos dogmas da religião católica o Catimbó incorporou componentes europeus como o uso do caldeirão e rituais de magia muito próximos das praticas Wiccas. Tanto dos europeus como dos brasileiros o uso de ervas e raízes é básico e fundamental nos rituais. Cada Mestre se especializa em determinada erva ou raiz.

Não existe Catimbó sem santo católico, sem terço, sem água benta, sem reza, sem fumaça de cachimbo e sem bebida, que pode nem sempre ser a Jurema.

O Catimbó de hoje é o resultado desta fusão da prática pagã inicial dos índios com o catolicismo sobre o qual construiu a base da “ religião” . É impossível dissociar o Catimbó do catolicismo e de outras tradições européias, provavelmente adquiridas dos holandeses, mesmo após as influências que recebeu do Candomblé e do kardecismo.

Podemos considerar que a mesma falta de força étnica que fez com que os índios fossem antropologicamente sobrepujados por outras culturas fez com que o Catimbó perde-se a sua identidade índia original (pajelança) e adquirisse os rituais importados de outras práticas religiosas mais “fortes”. Neste caso contribuiu muito a falta da cultura escrita que fez com que na medida em que os próprios índios eram extintos a prática religiosas Xamanista fosse sendo perdida ou diluída.

Entretanto do Xamanismo original foram preservadas as ervas e raízes nativas como base de todos os trabalhos e na prática da fumigação com fumaça de cachimbos e fumos especialmente preparados o elemento mágico de difusão.

Para o índio, o fumo é a planta sagrada e é a sua fumaça que cura as doenças, proporcionando e êxtase, dá poderes sobrenaturais, põe o pajé em comunicação com os espíritos.

Os primeiro elementos do Catimbó que devemos lembrar é o uso da defumação para curar doenças, o emprego do fumo para entrar em estado de transe, a idéia do mundo dos espíritos entre os quais a alma viaja durante o êxtase, onde há casa e cidades análogas às nossas. A grande diferença é que a fumaça na pajelança é absorvida, enquanto no Catimbó ela é expelida. O poder intoxicante do fumo é substituído aqui pela ação da jurema.

O Catimbó se desenvolveu diferentemente no interior e no litoral, nas capitais. As influências de outras práticas religiosas mais fortes em cada um deste locais acabam determinando o formato do Catimbó. Podemos dizer que quanto mais para o interior mais simples ele será devido a menor influência das religiões africanas.

ORGANIZAÇÃO DA CASA

A organização de casas de Catimbó é muito simples, tão simples como as pessoas que o organizam e freqüentam.

Possivelmente é esta simplicidade que o faz tão fácil de ser entendido e tão forte mesmo em lugares onde existem terreiros de Candomblé, Xangô ou Umbanda.

No Catimbó o gongá é substituído por uma mesa, literalmente uma mesa, sendo que eventualmente estas pode ser o próprio chão do local.
Nesta mesa estarão colocadas as princesas e príncipes com os fundamentos(Ciência) de cada Mestre, poderá conter também algumas imagens, principalmente de santos católicos, não é o padrão os mestres serem representados por imagens em profusão como na Umbanda, castiçais de vela são essenciais, assim como os cachimbos dos mestres.( vejo a profusão de estátuas dos mestres em uma mesa de Jurema após a influência da Umbanda no Nordeste, que antes não se via, só existiam estátuas de Santos católicos. A qual iniciou-se nas capitais onde a Umbanda veio influenciando os ritos locais. Melqui Jurema/RN

A mesa poderá estar em um local central, no caso de os trabalhos serem em volta da mesma, mas normalmente estará em uma posição de destaque, mas nas extremidades da sala.

O resto do espaço litúrgico é aberto e não existe separação entre os discípulos, os mestres e os freqüentadores. As pessoas se misturam, existe um acesso informal dos mestres com os freqüentadores.

Normalmente os discípulos se colocam em círculo, fazendo a roda da Jurema, cantando e dançando junto com os mestres e os convidados em volta. Na medida em os mestres forem "virando" eles vão estar no centro o Roda.

Hierarquia

No alto da organização existe o Mestre principal, o mais poderoso de todos e que é responsável pela casa. Como toda casa tem um dono o mesmo ocorre no Catimbó. Abaixo deste encontraremos os discípulos-mestres que já estão desenvolvidos e trabalham com seus mestres com seus cachimbos consagrados. A seguir estarão os demais discípulos em estágio de desenvolvimento, com ou sem o seu cachimbo.

O processo de desenvolvimento é gradual, mas, não segue as rígida estrutura de liturgias de Xangôs e Candomblés. Os mestres irão se acostar nos discípulos na medida em que quiserem e o discípulo irá aprendendo com seu Mestre na medida do seu desenvolvimento. O poder mágico é lentamente obtido e mais de um mestre poderão trabalhar com cada discípulo.
( Na jurema antiga o mestre da mesa trabalhava com seu mestre Espiritual assesorado pelo(a) curupiro(a) que é uma pessoa que não acosta mestre, equivalente ao Ogan ou Ekede do Candomblé ou Cambono da Umbanda, ele trabalhava de acordo com a necessidade das pessoas presentes, se era doença material vinha um determinado Mestre e passava um chá, garrafada, se era algum tipo de bruxaria, feitiço, etc. Ele marcava um outro dia em hora determinada para desmanchar o trabalho maléfico, se era uma gestante vinha uma das Mestras especialista no caso e receitava e fazia o acompanhamento da gestante, outrora tinha muita gente apadrinhada por mestres ou mestras, em agradecimento pelas curas alcançadas.) Melqui jurema/RN

Um discípulo será tão importante e forte quanto seja o seu Mestre, nos trabalhos de cura e ajuda aos freqüentadores; e também o quanto de poder e magia este mesmo discípulo tenha no trabalho não incorporado, através do seu cachimbo.

O trabalho no Catimbó pode ser feito sem a incorporação e os discípulos desenvolvidos devem ter a capacidade de invocar o trabalho mágico dos seus mestres sem estes estarem acostados. Esta é a medida do poder e força de um discípulo.

O Catimbó é uma manifestação de Umbanda, no sentido amplo que esta palavra tem, mas, não pode ser confundido com uma religião afro ou com os formatos tradicionais de Umbanda.
(Uma manifestação espiritual que não tem nada a ver com a Umbanda
A história do Catimbó precede a história da Umbanda.)

No Catimbó não há promessas, votos, unidade do protocolo sagrado. É um consultório tendendo cada vez mais, para a simplificação ritual.

De instrumentos musicais a cabacinha na ponta de uma vareta, com que o Mestre divide o compasso das linhas. Contudo os Catimbós absorveram facilmente os tambores da umbanda trazendo o seu ritmo e musicalidade.

Não há cores formais, vestidos , contas (apesar de existirem fios-de-conta de Catimbó, feitos com a cabaça e lágrimas de Nossa Senhora), enfeites especiais nem alimentos privativos, fetiches de representação.
(sempre conheci catimbozeiros que se vestiam de branco, nas sessões de mesa os homens usavam chapéus de palha, as mulheres usavam um lenço amarrado na cabeça, eram roupas de tecidos simples) *

Catimbó não é Macumba nem Candomblé, permanece isolado, diverso, distinto.

No Catimbó, os que acostam são catimbozeiros falecidos. Não há um só Mestre que não tenha vivido na Terra.

No Catimbó não se louvam orixás africanos e raro são trabalhos de chão. As coisas no Catimbó são simples e baratas feitas para serem acessíveis à população que o Catimbó serve. O Catimbó se serve de uma vela, fitas, cascas, folhas, fumo e bebida para realizar os seus trabalhos. Normalmente as coisas são resolvidas na própria roda de Catimbó.

Os caboclos podem ser vistos no Catimbó, mas, não são eles a base ou o objetivo principal. Caboclo é entidade de UMBANDA. Catimbó trabalha através de Mestres.
(No catimbó sempre houve caboclos que hoje se desconhece os nomes de tão antigos, mas os antigos sabem disto se conhece tribos inteiras que trabalham na jurema, os Canindés por exemplo é uma das poucas tribos que trabalham na Jurema

Como já citado o fato de entidades típicas de Umbanda aparecerem no Catimbó devido a origem do mediuns e ao fato de existir uma entidade comum chamada de Zé Pelintra faz com que se imagine que Catimbó seja uma forma de Umbanda no Nordeste.

Tudo no Catimbó se faz com a linha de licença, onde se fala, sisudamente: “Com o poder de Jesus Cristo, vamos trabalhar”. Das centenas de canções recolhidas no arquivos catimbozeiro, nenhuma alude a um encantado e infalivelmente a Deus, Santíssima Trindade, Santos, às almas. O espírito é religioso, formalístico, disciplinado, respeitoso da hierarquia celestial

Catimbó NÃO TEM EXU, NÂO TEM POMBO-GIRA e não tem Orixá sincretizado em Santo. No Catimbó Santo é Santo e Mestre é Mestre. Mestre trabalha na direita e a esquerda, faz e desfaz. Hoje já vemos casa de jurema com seus exus guardiões firmados, não é errado é mais uma influencia da Umbanda, porque firmamos um exu de porteira, para fazer juntamente com o guardião da jurema – MALUNGUINHO – a nossa defesa, e de nossos clientes e filhos da casa.**

A FUNÇÃO DOS MESTRES DO CATIMBÓ

Nesta generalização podemos entender muito bem o como e porque do culto do Catimbó. Em uma região dominada pela pobreza e falta de assistência a população carente de assistência médica sendo a doença um temor presente e terrível.

Neste sentido os Mestres se apresentam como enviados para socorrer e aliviar o sofrimento dos desassistidos oferecendo a tradição da medicina fitoterápica, herdade dos índios para ajudar a população. Por outro lado em regiões de pessoas simples mas que são submetidas a poderosos e violentos a jagunços onde falta a justiça do homem e a única proteção que todos podem contar é a misericórdia divina, os Mestres são como anjos vingadores que, apesar de ainda fortemente influenciados por suas manias e imperfeições humanas, se colocam assim mesmo como protetores e defensores de gente desassistida.

Desta maneira podemos entender que os caminhos de Deus são inúmeros e que a espiritualidade se manifesta conforme a necessidade para garantir uma vida justa e decente aos habitantes desta terra abandonada.

É neste contexto que o Catimbó se insere, absorvendo a tradição religiosa de gente simples e adicionando a esta base espiritual fortemente calçada em princípios de ética, bondade e misericórdia do cristianismo a necessidade do dia a dia introduzindo os ritos mágicos de trabalho e o trabalho dos espíritos acostados.

Seria muito mais difícil se o Catimbó trouxesse uma doutrina religiosa própria. Na realidade seria até mesmo impróprio ou desnecessário. Trata-se de gente muito simples que aprendeu e passou a vida toda aprendendo só conceitos e ensinamentos católicos estando possivelmente muito acostumados e doutrinados nesta verdadeira fé.

Mestres e seu fundamento no Catimbó

No panteão juremista existem vários Mestres e Mestras, cada qual responsável por uma atividade relacionada aos diversos campos da existência humana (cura de doenças, trabalho, amor...). Há ainda aqueles responsáveis por fazer trabalhos contra os inimigos.

Nas mesas e rodas as representações das entidades relacionadas nesta categoria são as mais elaboradas, geralmente possuindo o “estado completo” e a jurema plantada; em especial a do Mestre da casa, aquele que incorpora o juremeiro, faz consultas e inicia os afilhados nos segredos do culto. Por tudo isso este Mestre é carinhosamente chamado de “meu padrinho”.

Aliás esta característica de independência dos Mestres é que os tornam muito eficazes e temidos. São entidades que trabalham com magia direita e esquerda e não estão contidos por critérios ligados a Orixás. Não que os Mestres sejam desprovidos de justiça e bom senso, ou mesmo superiores a outras entidades e aos Orixás, mas o seu trabalho não depende de hierarquias complexas de serem atendidas.

Os Mestres são guias, orixás sem culto, acostando espontaneamente ou invocados para servir. Cada um possui fisionomia própria, gestos, vozes, manias e predileções. São muito ligados a sua última vida e as coisas terrenas por isso fazem questão de algumas peças de indumentária, mas. A fisionomia é uma forma muito característica de se reconhecer um Mestre. Com um pouco de experiência pode-se reconhecer um Mestre pelos trejeitos, posição das mãos, da boca e forma de andar.

Cada Mestre tem sua linha, um canto ou cantiga, de melodia simples. Há Mestres que não tem linha, como Mestre Antonio Tirano e Malunginho, ambos ferozes. Essa linha era cantada como uma invocação ao Mestre. Sem canto não há encanto. Todo feitiço é feito musicalmente. A linha é o anuncio e o pregão característico do Mestre.

Cada Mestre está associado a uma cidade espiritual e a uma determinada planta de ciência (angico, vajucá, junça, quebra-pedra, palmeira, arruda, lírio, angélica, imburana de cheiro e a própria jurema, entre outros vegetais), existindo ainda alguns relacionados à fauna nordestina. Para os Mestres relacionados a uma planta que não a jurema, são estas plantas que têm seus troncos plantados nas mesas dos discípulos.

Por exemplo, a cidade do Mestre angico deve ser plantada em um tronco da arvore do mesmo nome; as cidades das mestras geralmente são plantadas em troncos de imburana de cheiro.

Os que têm relação com animais, acredita-se que eles possam encantar-se em animais das espécies referidas, aparecendo em sonhos, visagens e, muitas vezes, metamorfoseados quando incorporados em seus discípulos.

Como oferendas, os Mestres recebem a cachaça, o fumo (seja nos charutos ou cachimbos), alimentos próprios de cada um e a jurema, bebida feita com o sumo vermelho retirado da casca e da raiz da jurema e que pode receber outras ervas e componentes (cachaça, melado, canela, gengibre e outras à gosto).

Nos terreiros que sofreram maior influência dos cultos africanos, é comum o Mestre receber sacrifícios de galos vermelhos, bodes e muitas vezes de novilhos, mas isto é uma deturpação do culto da jurema que por suas origens indígenas (caboclos) e católicas não tem a tradição ou necessidade de sacrifícios em suas liturgias.

Não que isto seja errado ou negativo, mas apenas que não faz parte de suas bases sendo mais um fenômeno de Umbandização.


VISÃO GERAL DO CATIMBÓ

Catimbó é uma pratica mágica baseada no Cristianismo de onde apóia toda a sua doutrina religiosa. O Catimbó não inventa Deuses ou os importa da África porque não faz parte das religiões afro-brasileiras.

Isto pode parecer polêmico, mas, o Catimbó não é afro, não é Candomblé e não é a Umbanda como se conhece comumente, mas pode ser considerado uma manifestação de Umbanda.

Catimbó nao é uma religião ou seita, podemos considerá-lo um culto, uma vez que não encontrarmos os elementos estruturados que são característicos, como os fundamentos religiosos próprios, com liturgias e dogmas. O Catimbó se apóia totalmente na religião católica, apesar de guardar um pouco das práticas pagãs, vindas da bruxaria européia e da pajelança indígena. A Jurema esta dentro dos padrões de religião, desde a aprovação de lei.***

Ele pode se parecer um pouco com a Umbanda, mas, nem um pouco com o Candomblé. A semelhança com a Umbanda é devido ao trabalho com entidades incorporadas. Entretanto, os Mestres do Catimbó possuem uma teatralidade de incorporação muito típica e discreta, e o Catimbó esta longe do trabalho da Umbanda. Outra coincidência é a presença da entidade Zé Pelintra que no Catimbó é dito como mestre e na Umbanda é muito cultuado como Exu ou Malandro. Catimbó não é a Umbanda que você conhece!

O Catimbó tem uma raiz indígena que foi se perdendo com o tempo. Não há dúvida que o Catimbó é Xamanista com muita práticas de pajelança, mas, não é baseados em Caboclos e sim em Mestres, apesar de que os Caboclos também terem participação.

O Catimbó não é muito diferente ou melhor do que estes cultos que citamos, não podemos dizer inclusive que suas entidades sejam de nível superior, pelo contrário, sob o ponto de vista espírita-kardecista são ainda entidades de baixa energia e que guardam muitas referências com a última vida que tiveram em "terra fria".

No Catimbó faz-se o bem, através de curas, problemas sentimentais, mas, também o mal, dependendo da cabeça de que o dirige, infelizmente, como em outras práticas.
O Catimbó é influenciado pela feitiçaria européia de onde adotou várias práticas.

O Catimbó é uma reunião alegre e festiva quando em sua forma de roda (ou gira), mas, pela falta da corrente doutrinaria formal, vários formatos serão encontrados, dependendo da “ciência”, vidência, maturidade e ética de quem o dirige e realiza.

Quem são os "Mestres do Catimbó"

O termo Mestre é de origem portuguesa, onde tinha o sentido tradicional de médico, ou segundo Câmara Cascudo, de feiticeiro. Este é o primeiro elemento de ligação do Catimbó com tradições européias, provavelmente cabalistas e mostra também nestes 2 significados a expressão semântica do trabalho do Mestre, a cura e a magia.

De forma geral os Mestres são descritos como espíritos curadores de descendência escrava ou mestiça, que em suma é a característica dos habitantes das regiões onde o Catimbó floresce, mas que não deve ser tratado como um dogma.

Dizem os juremeiros que os Mestres foram pessoas que quando em vida trabalharam nas lavouras e possuíam conhecimentos de ervas e plantas curativas. Por outro lado algo trágico teria acontecido e eles teriam passado, isto é, morrido, encantando-se, podendo assim voltar a acudir os que ficaram.

Não existe Mestre do bem ou do mal. O Mestre é uma entidade que pode fazer o bem ou o mal de acordo com a sua conveniência, necessidade, da ordem da casa e da ocasião.
OS METRES

Mestre Aroeira

Mestre sério e de muito fundamento. É um dos primeiros a serem chamados para abrir os trabalhos junto com o Mestre Junqueira.

É um mestre curador que gosta de trabalhar na esquerda. A aroeira é sua erva de fundamento de trabalho.

Mestre Carlos

Rei dos mestres, conhecidíssimo em qualquer sessão de Catimbó.

Era um rapaz que gostava de beber e jogar "farrista", andava no meio de "mulheres perdidas e gente livre", Filho do Inácio de Oliveira, conhecido feiticeiro.

O pai tinha desgosto e não o queria iniciar na feitiçaria. Contam, então, que Mestre Carlos "aprendeu sem lhe ensinar", quando de uma bebedeira caiu num tronco de Jurema e morreu após 3 dias.

Essa bebedeira seria o resultado de práticas rituais do Catimbó exercidas solitariamente e sem iniciação. Um dia o pai saiu de casa e Carlos, com 13 anos apenas, penetrou no "estado", tirou objetos imprescindíveis de invocação e saiu com eles.

Foi num mato de juremeiras e iluminado por uma presciência maravilhosa conseguiu abrir uma sessão sozinho e invocar um mestre. Logo como em geral sucede, quando o mestre se desmaterializou outra vez caiu desacordado. O pai chegou em casa, Carlinhos nada de voltar. No dia seguinte a inquietação principiou. Andaram a procura do menino por toda a parte e no outro dia seguinte, Inácio de Oliveira, desesperado, reuniu gente e fez uma sessão. Quando caiu em transe, que mestre entrara no corpo dele?
Nada menos que Mestre Carlos o mestre menino.

Mestre Carlos é caracterizado como uma entidade alegre, que gosta de brincar e rir durante as sessões; gosta de bebida, bebe jurema e cachaça. Especialista em casamentos e descobridor de segredos, estando sempre pronto para o bem e o mal.

Considerado pelos juremeiros como um mestre curador. Quando incorporado o medium transforma a fisionomia, fica meio estrábico, os lábios ficam em forma de bico; fala muito, conversa com os presentes, gesticula, brinca, ri, receita garrafadas e dá passes.



AS DIVERSAS CORRENTES

Não se pode no Brasil falar em religiões puras. O sincretismo entre correntes religiosas é a regra e não um privilégio.

Consideremos sincretismo a unificação ou fusão de diferentes cultos e doutrinas com a reinterpretação de seus elementos.

Negros, indígenas e europeus fundiram-se no Catimbó. A concepção da magia, processos de encantamento, termos, orações, são da bruxaria ibérica, vinda e transmitida oralmente.

A terapêutica vegetal é indígena pela abundância e proximidade, além da tradição médica dos pajés. O bruxo europeu também já trazia o hábito e encontrou no continente a fartura de raízes, vergônteas, folhas, frutos, cascas, flores e ainda a ciência secular aborígene na mesma direção e horizonte. A convergência foi imediata.

Influência do Negro

Com o negro africano houve fenômeno idêntico. Apenas quando arredado do leito da lavoura açucareira, velho, trêmulo e sempre amoroso, assumiu posição mais decisiva como Mestre orientador e dono dos segredos. Pelo simples fato de viver muito, existe, espontaneamente, um sugestão de sabedoria ao redor de sua imagem.

Quem muito vive, muito sabe. O diabo não sabe por ser diabo, mas por ser muito velho. Velhice é sabedoria. O saber, tendo como base experiências acumuladas, mantém-se na memória popular como o melhor e lógico. Doutor novo, experimenta. Doutor velho, trata. O negro escravo, de cabeça branca, representava um indiscutido prestígio misterioso. O “negro-velho” era assombroso “faz medo a menino”, curador, rastejador, vencendo o veneno da cobra, da faca fria e da bala quente.

Angolas, Benguelas, Canbindas foram os nossos Pais Pretos, Negro do Congo, Pai Angola, Negro de Luanda, vivos nas estórias populares, anedotários, feitiços. Bantos são topônimos negros do Rio Grande do Norte, cafuca, cafundó, cafunga, cassangue, catunda, massagana, mocambo, zumbi, buíque, cabugá. Foram armados depressa, subindo na fama coletiva. Deram armas, mucamas, amas-de-leite, mães pretas, xodós dos senhores de engenho, dor de cabeça da Senhora Dona, fidalgas e preferidas.

Os maiores Mestres de Catimbó foram negros e ainda o são, em maioria absoluta, mestiços e mulatos. Do cerimonial das macumbas dos bantos, o Catimbó mantém as linhas, significando a procedência dos encantados, nações, invocação dos antigos negros valorosos. Em função disso podemos considerar como comum, além dos mestres a presenças de pretos velhos trabalhando no Catimbó.


Neste texto que achei muito interessante vemos que no Catimbó-Jurema não existem os famosos Exús de Umbanda, hoje vemos na maioria das casas a jurema umbandizada que foi a forte influência da Umbanda quando veio do sudeste para o Nordeste, chegou influenciando e sendo ao mesmo tempo influenciada pelos ritos locais.
Se um umbandista do sudeste vier para o Nordeste e assistir uma gira de umbanda com certeza vai criar-lhe muitas interrogações, que com certeza vai ficar um tanto difícil de entender.
Quando vemos na jurema um mestre saudar um orixá já sabemos que vem da influência da Umbanda, a casa, o médium,etc.
A Jurema tradicional é de mesa, não tem tambor, é maracá.
Isto não quer dizer que a jurema que se toca com tambor esteja errada não... é uma versão do culto mais moderno.

Melqui – Juremeiro da Cidade do Natal /RN
Transcrito por Joana Juremeira.
• *- Explicando o uso do tosso
• ** - Usando a aglutinação religiosa
• ***- Alterações feitas devido a atualização legislativa. (alterações feitas por Joana Juremeira)










11 comentários:

  1. é maravilhoso tomar conhecimento de tão maravilhosa materia

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  4. Com vivo interesse, li todo o conjunto de escritos aqui posto, no entanto, permita-me a discordância quanto ao termo "Umbandização" ao se referir a matança de animais. Sendo eu chamado a pratica da Umbanda e feito sacerdote, pelos mesmos que me chamaram a ser sacerdote e que são o triangulo da forma de Umbanda a saber: Preto velhos, caboclos e a criançada. Desde cedo me foi ensinado que a a matança não é rito de Umbanda e que tal rito foi posto na Umbanda quando esta sincretiza com o candomblé, criando um terceiro culto que junta Umbanda e candomblé, sendo que os ritos do candomblé se impôs, ao ritos simples e despojados da Umbanda. Por estes tempos, se achegou a mim Mestre Aroeira, mestre Zé pilantra, Mestre Zé Baiano, mestre Arranca Toco e estes passaram a desenvolver seus trabalhos nas artes da cura e quebra de feitiçarias. Em momento algum me exigiram qualquer coisa, senão, simplicidade, disciplina e nenhuma cobrança financeira envolvida. Usam charuto, cachaça com ervas e mel, e frutos diversos. Portanto, me perdoe, mas , a Umbanda que vivo, não é uma Umbanda de camarinhas e feituras, ou oferendas sangrentas. Mestre Aroeira me pediu que plantasse a Arvore que leva seu nome e creia ou não ao lado da Aroeira, na entrada de nossa choupana, nasceu espontaneamente a arvore da jurema preta, que mantive e cultivo.

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  5. Mãe joana a senhora tem watsap? Me chame quando puder! 083998866343 meu watsap!

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  6. GOSTARIA DE SABER SE NO RIO DE JANEIRO EXISTE ALGUMA CASA DE CATIMBO QUE MANTEM SUAS RAIZES

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  7. CASO EXISTA CASA DE CATIMBO QUE MANTENHA SUAS RAIZES SEM NENHUMA MISTURAR , PEÇO POR FAVOR ME INFORMAR PELO EMAIL frauches2007@yahoo.com.br DESDE JA AGRADEÇO A ATENÇAO DISPENSADA

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  8. Axé aos seus fundamentos sarava Jurema sagrada

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  9. Eu tenho mestra paulina da rede rasgada estou aprendendo um pouco com ela, eu moro em São Paulo eu trabalho na linda da esquerda com ela, que aqui não tem catimbo então ela vem na linda da esquerda queria saber mais sobre ela se poder mim ajudar

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  10. Adorei seus ensinamentos sou filho do mestre posse quando estava encarnado moro na cidade de trindade Pernambuco e temos um terreiro de Jurema erguido pelo mestre posse hoje uma entidade que baixa nos terreiros inclusive aí em alandra pois não sabemos ainda seu ponto cantado gostaria muito que me passassem se caso souberes agradece o juremeiro Belchior

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